Continuamos a tratar a casca
Continuamos a moldar a casca
Continuamos a remar de costas
E a provar águas quase mortas
A viver ruas já pisadas
A levar pedras já usadas
Num saco meio roto
Num saco meio morto

Tentamos não manchar a casca
P'ra fazer brilhar a casca
Tentamos não parar de costas
Tentamos não falhar respostas
Que nunca nos vejam de fora
É p'ra nós que o mundo adora
Passos de dança no chão
É p'ra nós que os olhos olham

Casca é o tempo que dói
A janela fechada que estilhaça
Quando se olha p'ra trás
Vento é o que bate na cara
É só largar a casca
Ninguém olha p'ra trás

Tentamos disfarçar demónios
Por medo desviamos olhos
Por fuga apagamos fogos
Por escudos renascemos novos
Sem rasto esquecemos lábios
Altivos, rastejamos, sábios
Cada vez mais fundo
No buraco do mundo

Com força agarra-se a casca
Que é só o que nos resta
Que o mastro derreteu
Mais, tudo encolheu
Quisemos testar barreiras
E construímos teias
Difíceis de romper
Aqui ficamos presos na

Casca é o tempo que dói
É janela fechada que estilhaça
Quando se olha p'ra trás
Vento é o que bate na cara
É só largar a casca
Ninguém olha p'ra trás
Vento é o que bate na cara
É só largar a casca
Não se olha p'ra trás