Afonso Zeca

Afonso Zeca - Os Indios Da Meia Praia lyrics

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"Os Índios da Meia Praia" 



Aldeia da Meia Praia

Ali mesmo ao pé de Lagos

Vou fazer-te uma cantiga

Da melhor que sei e faço 



De Montegordo vieram

Alguns por seu próprio pé

Um chegou de bicicleta

Outro foi de marcha à ré 



Quando os teus olhos tropeçam

No voo de uma gaivota

Em vez de peixe vê peças de oiro

Caindo na lota 



Quem aqui vier morar

Não traga mesa nem cama

Com sete palmos de terra

Se constrói uma cabana 



Tu trabalhas todo o ano

Na lota deixam-te nudo

Chupam-te até ao tutano

Levam-te o couro cabeludo 



Quem dera que a gente tenha

De Agostinho a valentia

Para alimentar a sanha

De esganar a burguesia 



Adeus disse a Montegordo

Nada o prende ao mal passado

Mas nada o prende ao presente

Se só ele é o enganado 



Oito mil horas contadas

Laboraram a preceito

Até que veio o primeiro

Documento autenticado 



Eram mulheres e crianças

Cada um com o seu tijolo

Isto aqui era uma orquestra

quem diz o contrário é tolo 



E se a má língua não cessa

Eu daqui vivo não saia

Pois nada apaga a nobreza

Dos índios da Meia-Praia 



Foi sempre tua figura

Tubarão de mil aparas

Deixas tudo à dependura

Quando na presa reparas 



Das eleições acabadas

Do resultado previsto

Saiu o que tendes visto

Muitas obras embargadas 



Mas não por vontade própria

Porque a luta continua

Pois é dele a sua história

E o povo saiu à rua 



Mandadores de alta finança

Fazem tudo andar para trás

Dizem que o mundo só anda

Tendo à frente um capataz 



Eram mulheres e crianças

Cada um com o seu tijolo

Isto aqui era uma orquestra

Que diz o contrário é tolo 



E toca de papelada

No vaivém dos ministérios

Mas hão-de fugir aos berros

Inda a banda vai na estrada
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